sexta-feira, 21 de abril de 2017

Tramonto


F.,

Falho em calcular se já se foram 365 dias ou menos desde a queda. Ou desencontro? Após conversas recentes com novos personagens, penso que o termo é mais adequado aos acontecimentos. Absortos em nossas narrativas – eram tantas –, não percebemos que o erro era não estarmos na mesma página.

Foi a tua sinceridade que me encantou primeiro. Também foi ela que deixei de ouvir naqueles meses em que sentir (qualquer coisa) me pesava mais que a vontade de continuar e planejar um futuro. Estabilidade nunca foi uma constante em nossas vidas e todas as incertezas viraram armas. O que eu queria era testar nossos limites para ver se seriam capazes de diluir fronteiras porque ficar longe não era uma opção, dissemos uma vez. Mas foi uma escolha. Minha.

Falta. No sentido dos esportes que acompanhavas e eu nunca entendi. A minha foi ignorar que eu preferia a ansiedade da espera à tua ausência, mas o mundo inteiro me esmagava e cobrava o que eu não seria capaz de pagar sem ficar só. A partida não foi desamor: significava não te querer desfeito ao meu lado.

Largo as velhas justificativas, já gastas, pra dizer que hoje tudo parece claro, embora imperfeito e irreal, feito a história dos nove anos e do avião que ninguém perdeu. O que acontece é só a vida. Deixo a ti as minhas desculpas (eternas) e a vontade de cruzar contigo em uma cidade qualquer, pra um café ou discussões sobre os livros que escrevemos nos espaços das ausências.


Te cuida.

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