Ouça: Almost Blue - Chet Baker
“Oi, eu tô ligando pra dizer que...eu não sei...Quer dizer, sei. Ligo porque espero que as minhas mensagens te tragam, algum dia, de volta pro lado de cá. Isto é, se ainda as recebe. Imagina que engraçado seria se meus relatos fossem direcionados a um número novo de uma casa cheia de amigos que, semanalmente, se põem a ouvir o drama e discutem sobre a personagem estranha que vive a chamar alguém que nunca atende? Sei que é improvável, mas é melhor que falar a um número inexistente, esse adjetivo que cabe na gente – que um dia foi tudo.
Eu só queria falar de algo que ouvi. Desarvorada. É essa a palavra. Disseram que eu estava assim. A princípio, pensei que tivesse algo a ver com árvores, com o processo de poda. Algo como aparar galhos e excessos para que crescesse novamente, forte aos primeiros sinais da primavera. Fui saber depois que significa estar perdida, aborrecida e então entendi porque aquela característica cabia a mim. Não era tão longe das árvores, sabe? A diferença é que, no lugar dos meus galhos, acertaram a raiz. O machado afiado abriu um buraco que pode comprometer meu desenvolvimento e, por isso, minhas folhas não parecem tão verdes e não tenho floradas há tanto tempo...Eu, que não sei nada sobre jardinagem e quase rodei em biologia. Desarvorada...Dizem que pode ser algo com abaixar os mastros. Ou seja, significa que permaneço inerte, boiando em meio a um oceano de decisões a serem tomadas e que eu insisto em fazê-las sempre muito tarde. Eu...acho que é isso. Ainda é cedo e eu preciso achar um caminho. Qualquer um...Se ouvir esse recado...Só pega esse telefone, me chama a qualquer momento...”
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