terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Universo





"Verdade que o preço a ser pago é alto, 
mas temos que aceitá-lo: não podemos nos 
distinguir dos muitos sinais que passam por 
este caminho, cada um com um significado seu que 
permanece escondido e indecifrável, pois fora daqui não 
há mais ninguém capaz de nos receber e nos entender."
Ítalo Calvino in. Amores Difíceis

É que eu estou acostumado a fazer as malas e...partir – disse no exato momento que olhou pra ela e apontou pra constelação artificial acima das próprias cabeças – Mas, enfim. – concluiu, sem adicionar um final concreto à frase, deixando que a ouvinte inferisse aquilo que melhor lhe caberia.

Poderia encarar o universo que inundava o lugar, ela pensou, mas preferiu se concentrar no planeta solitário posicionado ao lado. Abaixou os olhos pra rir da pieguice e do romantismo torto que a invadia toda vez que uma possibilidade de encontro batia à porta. 

Sobre o planeta, assim teorizou porque dentre todas as metáforas que lhe cruzavam a cabeça era aquela sob a qual encarava a si e aos que os cercavam. Todas girando à velocidade da própria órbita ao mesmo tempo em que rotacionavam em torno dos mesmos sóis – o trabalho, o grupo de amigos, a família – ou da mesma lua – os amantes e as próprias aspirações. Nunca presas ao determinismo dos satélites ao redor, embora sofressem clara influência de seus regentes. Soube captar na fala que o que o guiava era um punhado de convicções e experiências acumuladas ao longo de anos que lhe fizeram impressão em algum canto da mente. A ele, mais que a qualquer outro, os ensinamentos serviam de base para a resolução dos acontecimentos cotidianos às situações complexas cujas particularidades ela esperava conhecer.

Os olhos, antes pousados no céu, se cruzaram e fizeram surgir dois meios sorrisos que, juntos, formariam um inteiro entendido apenas por ambos. 

"Alguns desvios nas rotas valem todas as colisões", pensaram em silêncio no exato momento em que o cometa cruzava o céu. 


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