Arrumavam as malas. Aquela seria a primeira vez em anos que passariam a data separados. De um lado da casa, ele separava as camisas por cor: as claras na base, deixando que as escuras tomassem o maior espaço e fossem localizadas de maneira fácil. Do outro, ela recolhia os itens do banheiro. Maquiagens, perfumes, cremes, aproveitando para descartar as embalagens que há muito deveriam estar no lixo, independente das reivindicações dos donos. As tarefas eram realizadas de forma metódica e silenciosa, com a irônica eficiência que acreditavam ser a mesma dos ajudantes do bom velhinho quando pequenos.
Dezembro pesava em todos os ambientes, da guirlanda da porta ao calor típico do mês. Na sala, o pinheirinho montado piscava em cinco cores, refletindo o arco-íris na parede, embora abaixo dele se abarrotassem pilhas de caixas que em nada pareciam com presentes. Na cozinha, os biscoitos de gengibre aguardavam, nus, a decoração em pastas coloridas.
Checaram as passagens que anunciavam destinos que pareciam distantes demais, ainda que fossem datados para a próxima manhã. Combinavam as caronas com aqueles que, dentro de horas, veriam no lar primeiro: os pais, irmãos e familiares. O retorno, embora planejado, pareceria tão inesperado quanto a ruptura presente no “para sempre” proferido no mês doze de 7 anos atrás.
No dia seguinte, adicionaram à bagagem os últimos itens de cada lista. Abraço frouxo, sorrisos amarelos, “até logo”. Cruzaram a porta, tomando caminhos opostos que não mais tornariam a se cruzar. O Natal, então, não seria assim tão Feliz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário