Ouça: Valentin - Nada acontece
Permanecer no quarto da infância era deixar-se afogar pelas reminiscências de uma existência leve e distante daquela que agora encarava. Intacto, o ambiente apresentava ainda os mesmos elementos que posicionara por último na adolescência, pouco antes de deixar o lar para se aventurar no mundo.
Encarava a mala aberta à frente com as mesmas dúvidas com que enfrentava o futuro - ainda que, no primeiro caso, bastasse apenas juntar aquilo que trouxe, de forma simples e objetiva. Não sabia. Se retornaria amanhã ou na próxima semana, se resolveria as pendências com a faculdade - e posteriormente com o trabalho -, se seguiria habitando o próprio corpo, se escolheria desabar de vez ou tirar um cochilo de horas. Indecisão riscada em cada canto da própria cabeça em caneta permanente.
Ao ponderar benefícios e desvantagens da capital e do interior, se convenceu de que ambos seguiriam os mesmos sem a própria interferência. "Você não quer ficar comigo, você só não quer ficar sozinho", talvez ela, a recém-conhecida no universo da grande cidade, estivesse certa. Recordou também, não sem um leve aperto no peito, do abraço e da expressão de abalo quando ele não ousou ir contra a afirmação dela, que permaneceria ali.
Estendeu o braço pra alcançar o resto de álcool na taça da noite anterior e pousar o corpo na cama em seguida. O único abraço ali seria de Morfeu, que o reteria por alguns momentos no mundo dos sonhos, pouco antes do calor o despertar.
Amanhã seria um novo dia, ficaria tudo bem. Não ficaria?
***
Permanecer no quarto da infância era deixar-se afogar...
Nenhum comentário:
Postar um comentário