segunda-feira, 19 de junho de 2017

1906


Os erros não se apagam e, na minha vida, tem sempre algo relacionado ao esquecimento. Eles estão em todas as partes: na minha camisa favorita, manchada por ter deixado grampos dentro do bolso na lavagem. A cicatriz no pé esquerdo que surgiu da breve temporada no hospital. Você, cujos traços e sentimentos apaguei ao querer ser outra, melhor que eu. E agora sei que sou.


Não percebestes, logo tu que sabes tanto de narrativas, que encarar aqueles dois dias de junho seria como declarar o fim de uma série cancelada. Conclusões genéricas dariam conta do final sem explorar a complexidade dos personagens e de um enredo marcado por plot twists e alguns hiatos. Eu acreditei na sequência de nove anos, contrariando com romantismo cego todas as minhas tendências realistas. Pra ti ficou claro que não passaria de um projeto experimental que jamais alcançaria mais cinco temporadas e um filme. 

Minhas vontades nunca conversam com a capacidade de comunicação. Ali, naquela viagem decidida às pressas, havia a ânsia de te acalmar com o abraço frouxo dado na escada rolante à saída do metrô, a vontade de dividir um quarto péssimo na Augusta onde ninguém saberia nos encontrar. Retornei meses mais tarde só para constatar que aquela cidade permanecia a mesma enquanto eu era outra, mais próxima da que te escreve agora. Aprendi contigo, mas ainda mais na tua ausência. As concepções de falta, afeto, distância e certeza foram ressignificadas no espaço da clareza que carrego no presente. Não há mágoa, nenhuma. Tantas trocas de elenco num curto espaço de tempo me ensinaram a fazer adaptações e a aproveitar as parcerias.

Finalmente, os créditos rolam na tela. O próximo romance está perto de começar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário