O prédio vazio
denunciava o fim do semestre letivo, declarado duas ou três semanas
antes. Por lá, circulavam somente aqueles que ainda possuíam alguma
pendência acadêmica ou, no caso dos dois, os que dispunham de
algum tempo no meio da semana. Não sabiam bem o que procurar e, a
bem da verdade, não era o fim que importava mas o meio, isto é, a
busca conjunta por algo que desconheciam.
O silêncio imperava
não só nas salas vazias e nos corredores amplos: ecoava entre o
casal. Era quebrado, por vezes, quando inferiam significados àquilo
que estava ao redor, fosse o edital de um dos murais ou o padrão
utilizado no piso de um dos andares. A espetacularização da vida
cotidiana era um jogo.
Criavam
justificativas para explicar a disposição das cadeiras, as falhas
tipográficas na apresentação de uma exposição fotográfica,
escadarias do departamento de dança que levam a destino algum. A
tudo concebiam uma breve narrativa, inserindo as próprias
referências como se descrevessem a história em um idioma que
testemunhas seriam incapazes de decifrar.
A melhor novela, no
entanto, recusavam-se a dar nome. Seguiam, certos de que eram [algo,
com todas as representações que cabem nessas quatro letras] tudo o que não caberia em nenhum
rascunho.
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