Já era noite em algum lugar de uma cidade na qual nenhum dos dois pertencia. Em lados opostos, esperavam pelo começo do mesmo espetáculo. Cada qual imerso em seus próprios pensamentos -a rotina, os livros não lidos acumulados nas prateleiras, o trabalho, a falta dele, o futuro e no outro, do lado contrário do salão.
Em poucos minutos, os atores entrariam, exclamariam metáforas altamente relacionáveis à qualquer um dos presentes. Alguns espectadores chorariam, outros esconderiam a face que levasse os tapas verbais. Ele anotaria mentalmente alguma frase muito específica, que voltaria em algum de seus escritos. Ela cravaria no peito a mensagem, relacionando-a às próprias ausências.
Do roteiro, lamentariam aquilo que não foram. Não culpariam os amantes, afinal, perderam-se: em lençóis, amantes e dentro de si, alimentando abismos que cresceriam exponencialmente enquanto houvesse silêncio.
Sairiam destroçados, procurando a vontade de manter o sangue fluindo nas veias e o coração forte, batendo descompassado dentro do peito. Os olhares se cruzariam antes de deixarem o salão devidamente acompanhados por aqueles que conheceram no caminho e lhe tapavam o buraco que a solidão deixava. Desejariam, uma vez mais, ter experienciado o espetáculo juntos, como haviam mencionado tempos atrás em uma conversa de bar.
Voltariam aos lugares de origem, juntos.
Tropeçando nos mesmos trilhos sem correr o risco de serem atropelados pelo mesmo trem.
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