segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Don't be a stranger

Já era noite em algum lugar de uma cidade na qual nenhum dos dois pertencia. Em lados opostos, esperavam pelo começo do mesmo espetáculo. Cada qual imerso em seus próprios pensamentos -a rotina, os livros não lidos acumulados nas prateleiras, o trabalho, a falta dele, o futuro e no outro, do lado contrário do salão.

Em poucos minutos, os atores entrariam, exclamariam metáforas altamente relacionáveis à qualquer um dos presentes. Alguns espectadores chorariam, outros esconderiam a face que levasse os tapas verbais. Ele anotaria mentalmente alguma frase muito específica, que voltaria em algum de seus escritos. Ela cravaria no peito a mensagem, relacionando-a às próprias ausências.

Do roteiro, lamentariam aquilo que não foram. Não culpariam os amantes, afinal, perderam-se: em lençóis, amantes e dentro de si, alimentando abismos que cresceriam exponencialmente enquanto houvesse silêncio.

Sairiam destroçados, procurando a vontade de manter o sangue fluindo nas veias e o coração forte, batendo descompassado dentro do peito. Os olhares se cruzariam antes de deixarem o salão devidamente acompanhados por aqueles que conheceram no caminho e lhe tapavam o buraco que a solidão deixava. Desejariam, uma vez mais, ter experienciado o espetáculo juntos, como haviam mencionado tempos atrás em uma conversa de bar.

Voltariam aos lugares de origem, juntos.
Tropeçando nos mesmos trilhos sem correr o risco de serem atropelados pelo mesmo trem.

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