Pretty soon, I've got to go
But the sooner I leave, the sooner I can come home.
Do you still feel me? Don't disconnect
Go ahead just ask me, all of the questions, left in your head.
Don't disconnect
Quase comemorava o fato de estar em outra cidade, completamente desconhecida. Cidade que, aliás, sonhara em conhecer meses a fio antes de ser mandada para cobrir um colega em assuntos de trabalho. Encarou a mala pequena e a miudez de um quarto de hotel feito para se passar apenas uma noite – e nada mais – apenas por emergência. Passara três.
A janela levava a outras janelas, situadas em prédios tão altos quanto os seus: poucos apartamentos acesos na noite de um domingo. A verdade é que, neste dia, ninguém quer estar: nem em casa a ver navios, nem em shoppings ou parques lotados de famílias comemorando o descanso que deixaram de ter. Ela também não queria e carregava na pequena bagagem o peso de não querer estar em lugar algum: fosse no quarto, na cidade, no trabalho e no próprio corpo. Arrumaria, então, o que restava antes de ir.
Da bagagem – não mais a externa, preta, semiaberta jogada ao canto- interior, tentava desamarrotar os silêncios, dobrar os vazios e sacudir as dúvidas ao chão, para que assim pudesse organizá-las melhor. Não conseguiria. A culpa, esticada no cabide do minúsculo armário, se fazia presente, intocada, como se não tivesse sido, jamais, empacotada para cruzar estados. A culpa de partir sem escusas, de ignorar as confidências e cicatrizes, de calar as dúvidas ao professor e deixá-lo apenas reticências a consumiria, como há tanto tempo as ansiedades lhe consumiam o estômago.
Decidiu que, assim que chegasse em “casa”, daria fim a própria culpa, colocando após a tragédia da nefasta personagem um ponto ou uma vírgula. As dúvidas, todas, ao professor seriam levadas em uma só aula.
Calculando o tempo que levaria até desatar o nó da garganta, achou valores que iam de 1,1,2,3,5,8...mais de 13 horas, o que resultaria em um sufocamento por tudo que não foi dito. Escolheu, então, métodos mais rápidos. Das armas que não sabia manejar, o telefone. Impacto menor na resolução, maior no próprio corpo.
Com as mãos trêmulas, discou.
O aparelho reagiu, barulhento, antes dela poder finalizar os números.
Só depois de atender, entendeu: do outro lado, ele chamava também.
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