Ouça: A Movie Script Ending - Death Cab For Cutie
(***)
Lado a lado, esperavam. Os braços
quase se encostavam quando ela, impaciente, se mexia conforme os ônibus
chegavam. O primeiro, então o segundo, de companhias diferentes e de
procedência igualmente distinta. Não era
aquele que esperava. Outros continuavam a chegar e deixar que seus passageiros
desembarcassem. Ela balançava as pernas como se dançasse uma música que só
fazia sentido na própria cabeça. O rapaz ao lado observava com o canto do olho.
Estava tão ansioso quanto a estranha, mas disfarçava colocando as mãos no bolso
frontal da calça enquanto se inclinava para frente e para trás, vez ou outra.
A cena, vista de longe, dava a
impressão de que estavam juntos. Eram até meio parecidos. O óculos dele
combinava com a cor do cabelo da garota que esperava, não tão pacientemente, ao
seu lado. A camiseta dela era do mesmo tom do tênis do cara que a encarava de
tempos em tempos. Mas, não. Não partilhavam coisa alguma. Quer dizer,
esperavam. O cara pela namorada que viajara para um congresso que acontecia em
outro estado. A guria aguardava um amigo com quem, eventualmente, dividia
segredos. E a cama.
10, 15, 35 minutos desde que os
dois se prostaram lado a lado, aguardando outros alguéns. Cada vez mais
impacientes, agora se encaravam, partilhando a mesma frustração de esperar por
quem não dá as caras ou sequer manda mensagem, falta grave num mundo onde todos
estão conectados a todo o tempo. Começaram, então, a dividir os pensamentos,
além do espaço. “Talvez ele não venha...”, “talvez ela tenha perdido o ônibus,
sempre acontece”, “se ele não aparecer em cinco minutos, eu saio daqui e nunca
mais volto”, “ela sempre faz essas coisas”. A cada pensamento, eles se
encaravam, mantendo a conversa muda, mas clara para as duas partes. Até
trocaram o famoso sorriso de derrota, abraçando seus fracassos.
Outro ônibus encostara. Como se
coreografado, o corpo de ambos tomara a mesma direção, fazendo com que
encostassem um no outro. Pediram desculpas, manteram a distância que prevalecia
anteriormente e aguardaram até que a última pessoa saísse. Nada. Aquela era a
última esperança. Deram meia volta e cada um seguiu seu caminho, as cabeças
baixas e os ombros frouxos.
Cruzaram-se mais tarde em um bar.
Os olhares se cruzaram e a conversa, antes muda, tomara forma. Contaram o que
faziam na rodoviária e riram ao perceber que, de fato, compartilhavam a mesma
situação.
Lado a lado, esperavam. Não por
aqueles que não iriam chegar.
Só pela coincidência que os levaria a um novo começo.
Só pela coincidência que os levaria a um novo começo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário