terça-feira, 2 de setembro de 2014

Pequena Teresa

(***)

               O primeiro chegou como quem sabe o que quer. Até demais, alguns diriam. Tinha casa, bom emprego, carinho de sobra, vontade de vê-la sorrir. Cortejava-a com presentes, caros ou baratos, sempre com cartões a declarar as boas intenções. E boas intenções, de fato, nada dessas do qual o inferno está cheio. Sussurrava-lhe garantias ao pé do ouvido, a certeza dum amor tranquilo, bem visto por todos. Era um sonho. Se ela ousasse pedir o mundo, ele iria atrás, sem pestanejar. A boa vontade e a falta de capacidade de negar o que quer que fosse à moça, assustou-a. Fugiu antes que, a ele, precisasse dizer não.

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               O segundo chegou como quem chega do bar. Perguntou o nome, idade. Desenterrou-lhe o passado, vasculhou as gavetas. Passava a mão em torno da cintura sempre que saíam juntos, para assegurar sua propriedade. Indagava os olhares que ela lançava aos outros no salão. Exigia: do corpo, da alma, da mente. Pedia demais sem nada, nem mesmo um agradecimento, dar em troca. Arranhou-lhe o rosto com a barba malfeita e também o coração, com os espinhos que tinha na alma. Assustada com a possibilidade de sofrer mais danos, disse “não”.

(***)
                                                                                                                                      
               O terceiro lhe chegou ninguém sabe como. Não tinha nada nas mãos, nenhum pedido a fazer. Estava ali. Não fazia juras, não tecia promessas, do corpo não exigia mais do que ela estivesse disposta a entregar. Calado, misterioso, de jeito manso, pouco a pouco se instalou: na casa, no peito e na vida. Sem garantias, sem exigências, sem rótulos. Ela não soube onde encontrar resistência.
Assim, antes mesmo que, assustada, negasse, deixou que lhe tomasse o coração. 

(***)

               Não duraram. Exigências e promessas, ou a falta destas, descobriram, não figuram na lista de ingredientes da fórmula para fazer a vida a dois dar certo. Aliás, descobriram que "certo" era algo relativo. Lamentaram, obviamente, antes de cada um seguir para seu lado. Até que superaram.
            
                    E a história recomeçou.  
               

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