quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Depois de amanhã



É chegado o afastamento
Pela força do desejo
o longínquo
aproxima-se um instante
até que a proximidade
recua
o próximo distancia-se
e pouco a pouco
avizinha-se a distância
Tão cedo era tarde demais
Ana Martins Marques

Adiava o encontro como se, ao postergar o amanhã, amansasse aquilo que trazia no peito. Sentia muito. Não com o pesar de quem profere desculpas, mas com a intensidade de leões selvagens que tentam ser domados. A diferença é que ele seria devorado pela própria natureza e, uma vez digerido, acabaria só, outra vez.

Adiava o encontro, mesmo ansiando o contato da pele, o calor do abraço, os dedos que percorriam na nunca e que, como mágica, lhe desligavam os pensamentos. Desejava o conforto do silêncio e a inexatidão dos movimentos atrapalhados que fazia tentando trazê-la para perto. As mãos repousadas nas costas, braços, ombros. As mãos juntas, cruzando os dedos na promessa de que ali - fosse por cinco minutos ou três horas - haveria alguém na outra extremidade do corpo e não estaria sozinho. 

Adiava o encontro sem perceber que cada dia a menos era um a mais no saldo da saudade futura que apareceria para lhe sufocar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário