A última vez que desembarquei no Tietê foi sabendo que não cruzaria a infinidade de linhas da Portuguesa-Tietê ao Terminal da Barra Funda porque significava ultrapassar os limites que me levariam de volta ao teu mundo, repleto de ônibus, carros, sinais fechados e lugares que aprendi a explorar do teu lado. Assim, sabia também que as mãos não pousariam na minha cintura e que seguiríamos lado a lado com um abismo nos separando, mesmo quando insisti em prender meus dedos nos seus, mesmo quando você subiu comigo de elevador e entrou comigo num quarto estranho de um prédio aleatório da Augusta, aquele, que juravas que era pro lado da Oscar Freire quando mal o meu dinheiro dava para pequenos luxos, como almoçar todos os dias ou tomar um táxi nos dias em que estivesse muito cansada. E eu ri, pelos deuses, e chorei tanto quanto foi possível. A Paulista aberta no dia seguinte era a memória que eu levaria comigo nos meses seguintes, sabendo tudo que precisava para seguir a vida estaria dentro de mim e que o lugar no qual meu corpo repousaria era só um detalhe que você não entenderia nunca.
E mais uma vez eu ri, sozinha. Porque dissestes que me faltava verdade, que o peso da escolha – ou da ausência dela – cairia como bigorna na minha cabeça enquanto tantos outros endossavam minha vontade de criar asas. Sugeriu que, fatalmente, acabaria sozinha por não se abrir àquilo que o destino apresentava como uma oportunidade de estabelecer. Eu, logo eu que saltava de um prédio a outro na intenção de aprender a voar.
A forma de amor que te faltaste a mim sobra. Dias atrás, peguei meus pais encarando juntos o crescimento de uma dessas plantas que há tempos estão no nosso quintal. Hoje mesmo, ele contava a ela algo sobre o universo e eu pude entender pelos olhos, pela voz, que os laços que nos uniam nada mais eram que um emaranhado que só se resolveria ao cortar os nós, ainda que doesse. Doeu e eu joguei álcool pra não inflamar. Considerei tomar remédios que apagam as impressões digitais pra nunca mais lembrar do meu toque na sua pele, mas não dariam receita prum tipo de câncer que era puramente emocional.
Hoje você é só uma cicatriz traçada no livro que é o meu corpo.
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