"Isso me inquieta. Sinto que quem fala comigo é uma foto.
Recordo aquele poema, "Os olhos desta dama morta me falam".
Mas ela move as mãos e a vida volta ao seu corpo. Não está morta,
penso de novo, e de novo sinto uma alegria imensa."
Formas de voltar para casa, Alejandro Zambra.
Foi abrir os próprios olhos para sentir os dela o encarando do outro lado da sala. Era madrugada e a pequena forma o observava da outra poltrona, sem dizer nada. Tentou erguer-se do sofá, estabelecer algum movimento que despertasse nela qualquer tipo de reflexo, mas foi em vão: caberia apenas assistir ao enquadramento formado pelas grandes janelas em contraste com a sombra do móvel e do corpo que nele repousava. Pensou em como ela poderia ter chegado ali sem saber o endereço ou mesmo o número correto da porta a se atravessar.