segunda-feira, 13 de junho de 2016

Hiato


A primeira vez que ouvira falar dele fora por intermédio de um rapaz que conhecera graças ao gosto literário caótico. Ao ler a situação e perceber que a moça carregava um punhado de idealizações junto a si, mencionou o amigo, dizendo que este alimentava com ansiedades a paixão que possuía por uma desconhecida. Não sabia nada, nem mesmo seu nome, mas estava convencido de que, se houvesse paciência e um pouco de coragem, poderiam ficar juntos. Diante da informação, a moça riu e, no entanto, abraçou cada pedaço da essência desconhecida, esperando que os caminhos se cruzassem.


E cruzaram. Vezes seguidas. Munidos de receios e idealizações, compartilhavam erros e acertos de amantes antigos, deixando o que poderiam ser para depois. Eram a representação daquilo que é “amar o amor mais do que o objeto do amor”, escolhendo agarrar-se ao sentimento e não à pessoa. Não por acaso, tomaram bifurcações vezes demais, retornando sempre ao ponto de, lado a lado, abraçarem as próprias angústias.

Mesmo com espinhos enterrados profundamente em feridas que demoravam a cicatrizar, não eram cactos. Resistiriam aos ambientes inóspitos causados pela luta diária dentro de suas mentes, sobreviveriam, ao final. Mas a complexidade de ambos mais se assemelhava aos bonsais. Tímidos, floresciam apenas uma vez ao ano, não se sabe ainda se por coincidência ou ironia, justamente quando arriscavam a retomar o crescimento das raízes em conjunto.

Segundo o que dizem, ainda permanecem: em lados opostos, em receio, em aberto, em ponto de extrema curiosidade.

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