Ouça: Múm - Now There's That Fear Again
Não fosse pela sequência de horas que me engolem, pelos dias que me apertam o peito, pelas semanas cheias que impedem que grandes pensamentos tomem forma, talvez, não estivesse aqui agora.
Não fosse pela sequência de horas que me engolem, pelos dias que me apertam o peito, pelas semanas cheias que impedem que grandes pensamentos tomem forma, talvez, não estivesse aqui agora.
É preciso alimentar o corpo para,
de alguma forma, manter também a alma sã, viva. Dentro de um desses grandes
centros comerciais, tomo meu lugar. Agora, o relógio marca um pouco mais de
onze horas. É feriado, a cidade está vazia e apenas alguns poucos tomam os
assentos da praça de alimentação. Em uma das cadeiras, repouso o corpo por não
poder repousar a mente. No apartamento vazio, as plantas murcham. Aqui, rodeada
de luzes artificiais, vitrines abarrotadas e em meio aos aromas da culinária
mundial rápida e plástica, ainda há alguma proteção dos meus próprios
fantasmas.
Na mesa à frente está Helena. A
filha que eu não tive. De olhos mareados, cabelos negros e alma inquieta. Não
passa de dois ou três anos.
Impaciente, pede pelo colo da avó, que a
repreende: “assim não, Helena.” Ela pede por um colo que não é o meu. Sem saber
porquê, a menina à frente chora as dores do mundo. A pequena à frente é o
reflexo do futuro arrancado de meu interior, a morte das esperanças cuspida
depois de muito ser mastigada. O englobado de células mandado pelo ralo, ainda quente
e não muito rígido.
Em sua cadeira, Helena chora.
Eu choro também.
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