segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A queda - A implosão

Ouça: Prague - Damien Rice 


Prepare myself for a war
And I don't know what I'm doing this for
Trying to let it all go
But how can I when you still don't know?

Deixem-me tomar parte nesta história. Certa vez, a que voz narra tal novela ouviu em uma esquina a seguinte frase: o primeiro passo daqueles que optam pela ruína é a incomunicabilidade. Espero que entendam que incomunicabilidade, como coloco aqui, nada tem a ver com silêncio, mesmo porque dividir silêncios e dizer muito na ausência de palavras é atividade constante dos amantes que facilmente ruborizam e perdem os sentidos ao lado do outro. Incomunicabilidade, aqui, é trocar frases sem real decodificar seu significado.

Perguntar sem querer conhecer respostas, aceitar meias palavras e pensamentos vagos.  Abrir mão. Dizem por aí que insistência gera desgaste. Mas é a desistência que faz com que os laços, de fato, se arrebentem.
De modo automático, minados pela rotina, acordaram em sustentar a existência dessa forma. Ainda que dividissem a cama e a casa, aos poucos tomaram lugares distintos, como se cada um habitasse em sua própria trincheira inultrapassável, deixando como única medida o ataque, mesmo sem saber o que poderiam atingir.

(***)

Incapazes de mostrar ao outro os resultados de uma guerra que só estava no início, optaram por armas mais fortes. Ele, pelo álcool e os cigarros. Ela, pela destruição do orgulho.
Ah...a traição! A ruptura do compromisso de dois corpos que decidem se manter exclusivos. Muito comum em relacionamentos monogâmicos, diga-se de passagem. E, longe de incentivos, se optar por este caminho, não esqueça dos preservativos. Ninguém quer um bebê acidental ou uma doença como resultado de uma noite descompromissada.
Voltando à história, a moça optou por outras camas. Expandiu seu conhecimento em línguas, braços e pernas, abandonando as noites em casa por lençóis diferentes daqueles com que estava acostumada. Numa noite, procurando alguém que lhe preenchesse os vazios, encontrou alguém capaz de adicionar à vida pequenas coisas, como presença ou diálogo. 
O rapaz destruíra o fígado e os pulmões, já que o orgulho ela tratara de dizimar. Nas mãos amarelas, o retrato era da marca dos cigarros queimados de tanto esperar. Nos olhos, o reflexo de noites em claro estampadas de roxo. Procurava-a. Prometeu a si reconhecer os próprios erros, perdoando-a por buscar alento em outros.  Mesmo com o ego bombardeado, com o peito em destroços, daria outra chance. De consertar as falhas e ser um homem melhor.
Decidiu que esperaria. Dividiria as horas de trabalho com as expectativas de retorno e não mais com bares de nomes que não decorava. Até que um dia, ao voltar para casa, se deparou com ela: a ausência.
Armários vazios, casa em ordem, livros faltando. A moça varrera a própria presença como se desejasse apagar da memória do ex amante aquilo que dividiram por tanto tempo.  

Ele esperou. Ela retornou com pés de algodão.

Só para fazê-lo entender que não voltaria, jamais. 

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