Ouça: Prague - Damien Rice
Prepare myself for a war
Prepare myself for a war
And I don't know what I'm
doing this for
Trying to let it all go
But how can I when you
still don't know?
Deixem-me tomar parte nesta
história. Certa vez, a que voz narra tal novela ouviu em uma esquina a seguinte
frase: o primeiro passo daqueles que optam pela ruína é a incomunicabilidade.
Espero que entendam que incomunicabilidade, como coloco aqui, nada tem a ver
com silêncio, mesmo porque dividir silêncios e dizer muito na ausência de
palavras é atividade constante dos amantes que facilmente ruborizam e perdem os
sentidos ao lado do outro. Incomunicabilidade, aqui, é trocar frases sem real decodificar seu significado.
Perguntar sem querer conhecer respostas,
aceitar meias palavras e pensamentos vagos. Abrir mão. Dizem por aí que insistência gera
desgaste. Mas é a desistência que faz com que os laços, de fato, se arrebentem.
De modo automático, minados pela
rotina, acordaram em sustentar a existência dessa forma. Ainda que dividissem a
cama e a casa, aos poucos tomaram lugares distintos, como se cada um habitasse em
sua própria trincheira inultrapassável, deixando como única medida o ataque,
mesmo sem saber o que poderiam atingir.
(***)
Incapazes de mostrar ao outro os
resultados de uma guerra que só estava no início, optaram por armas mais
fortes. Ele, pelo álcool e os cigarros. Ela, pela destruição do orgulho.
Ah...a traição! A ruptura do
compromisso de dois corpos que decidem se manter exclusivos. Muito comum em
relacionamentos monogâmicos, diga-se de passagem. E, longe de incentivos, se
optar por este caminho, não esqueça dos preservativos. Ninguém quer um bebê
acidental ou uma doença como resultado de uma noite descompromissada.
Voltando à história, a moça optou
por outras camas. Expandiu seu conhecimento em línguas, braços e pernas,
abandonando as noites em casa por lençóis diferentes daqueles com que estava acostumada. Numa noite, procurando alguém que lhe preenchesse os vazios, encontrou
alguém capaz de adicionar à vida pequenas coisas, como presença ou diálogo.
O rapaz destruíra o fígado e os
pulmões, já que o orgulho ela tratara de dizimar. Nas mãos amarelas, o retrato
era da marca dos cigarros queimados de tanto esperar. Nos olhos, o reflexo de
noites em claro estampadas de roxo. Procurava-a. Prometeu a si reconhecer os
próprios erros, perdoando-a por buscar alento em outros. Mesmo com o ego bombardeado, com o peito em
destroços, daria outra chance. De consertar as falhas e ser um homem melhor.
Decidiu que esperaria. Dividiria
as horas de trabalho com as expectativas de retorno e não mais com bares de
nomes que não decorava. Até que um dia, ao voltar para casa, se deparou com
ela: a ausência.
Armários vazios, casa em ordem,
livros faltando. A moça varrera a própria presença como se desejasse apagar da memória do ex amante aquilo que dividiram por tanto tempo.
Ele esperou. Ela retornou com pés
de algodão.
Só para fazê-lo entender que não
voltaria, jamais.
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