terça-feira, 9 de setembro de 2014

A ciência dos sonhos



Primeiro os porquês. Depois as vozes em tons altos, reverberando nas paredes, incomodando os vizinhos. Então as malas, o “fica bem”, o “é só por um tempo”. Ela chora. Ele tenta fazer caminhos alternativos para não cruzar com as lembranças dela expostas numa frase pichada no muro da terceira rua à esquerda. Ela sai de casa para resolver banalidades, veste a tristeza e descobre que lhe cai bem. Seduz estranhos com os olhos inchados de noites mal-dormidas. Pede que lhe completem os vazios. Não só os do corpo. Não entendem. Ele arrisca nos amores passados. A antiga amiga do ginásio agora não parece tão desesperada por companhia. A moça se esquiva e ele já não tem a menor paciência para jogos. Vivem um dia após o outro esperando que...

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Pequena Teresa

(***)

               O primeiro chegou como quem sabe o que quer. Até demais, alguns diriam. Tinha casa, bom emprego, carinho de sobra, vontade de vê-la sorrir. Cortejava-a com presentes, caros ou baratos, sempre com cartões a declarar as boas intenções. E boas intenções, de fato, nada dessas do qual o inferno está cheio. Sussurrava-lhe garantias ao pé do ouvido, a certeza dum amor tranquilo, bem visto por todos. Era um sonho. Se ela ousasse pedir o mundo, ele iria atrás, sem pestanejar. A boa vontade e a falta de capacidade de negar o que quer que fosse à moça, assustou-a. Fugiu antes que, a ele, precisasse dizer não.