Ouça: Just Like You Imagined - Nine Inch Nails
Te amei porque nunca existimos,
Cantei teu nome em voz alta hoje, em alto, claro e bom tom. Repeti até que meus ouvidos se acostumassem com o que, dantes, parecia profano. Teu nome: incomum, inadequado, impuro. Tornei a repeti-lo até que as paredes o absorvessem como antes, assim como absorveram as noites de sangue e lágrima, hoje secos.
Você foi, seco. Com teus silêncios súbitos, levando consigo toda a minha carência por respostas que o mundo não foi capaz de me dar. "Sinto muito", disseram quando questionei alguém sobre o que havia acontecido contigo. Ninguém "sentia muito", não mais do que eu senti até te expurgar de mim. Doses de drogas antineoplásticas e milhões de células inocentes fadadas à morte para livrar-se de um câncer. É necessário recolher-se, diziam. Silêncio e recolhimento, agulhas imaginárias a perfurar a pele, tratamentos para um mal crônico.
Sofri de todos os males dos quais te protegia. Tornei-me contagiosa. Eu era a garota anacrônica, lembras? Pois passei a ser radioativa. Aprendi a viver a partir das bases do teu jogo: cinismo, sarcasmo, mentiras casuais (primeiro para si, depois para o mundo). Mas aprendi a jogar tarde demais, derrotaste-me antes de deixar claro o que era permitido. Entendi só depois que covardia também era uma das tuas armas mais fortes.
Penso, agora, que deveria ter te espiritualizado menos. Não alcancei tua face humana e entendi tua crueza só quando não restava mais tempo. Tínhamos o trunfo da distância, do inatingível e, por isso, te amei, meu caro. Do meu jeito torto, sujo e roto. Mesmo que tenhas me traído ao desistir do jogo sem anúncios.
A.
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