segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Murmúrio

Ouça: A escalada das montanhas de mim mesmo - Vanguart

Um dia me disseram que a vida não passa de uma dança. Cada qual com seus passos, descoordenados, tortos ou coreografados. Cada um em seu próprio ritmo. Talvez, penso eu, seja por isso que custa tanto aprender a se orientar pelos passos do outro, tentar entrar na dança daquele de quem procura, de quem se pretende seguir. Ser, mas sem pertencer. 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Do que os outros dizem

Ouça: Say It to Me Now - Glen Hansard
Disseram que pra estarem juntos era questão de tempo: ele ficou.
Disseram que ela não poderia ter o que queria: desejou.
Disseram que as cartas dele acalmariam o pequeno coração vulcânico: mandou.

sábado, 19 de outubro de 2013

Vago

Ouça: We Are Nowhere and It's Now - Bright Eyes

"... ... ... Oi! Hã...desculpa... Quem está falando... bem... quer dizer... sendo sincero, você está falando com a secretária eletrônica! Liga mais tarde ou...ah, deixa um recado."
Desliguei.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Perto

Ouça: She's a Ghost - Neva Dinova

Chovia. Era quarta-feira, um desses dias em que todos contam os segundos, seja para o fim de semana ou simplesmente para chegar em casa, repousar o corpo às 21:00 e desfrutar das oito horas tão aclamadas pelos cientistas e demais estudiosos com importantes diplomas emoldurados numa parede. Não ele. Ele não fez isso.
Abandonou os colegas no cruzamento mais próximo e entrou no bar que frequentava desde que começou a trabalhar na nova empresa. Sentou ao balcão, pediu o de sempre e encarou os gatos pingados que se encontravam no salão. Era estranho, agora, estar ali, só. Não tinha Juliana (ou era Clara? Luiza? Ana! Era Ana, certo?) pra sentar do seu lado e reclamar das garotas com quem trabalhavam. Acontece que Ana tinha ido embora por uma dezena de fatores: a indecisão e a falta de ação do rapaz eram só algumas das razões pela qual a moça havia ido embora. Ah, ele também fodia a garota do apartamento de cima quando Ana ia ao outro lado da cidade para visitar as amigas. Ana foi embora e o rapaz sofreu. Mas logo encontrou consolo em outros amores.
Deixe-me esclarecer: ele era um romântico desses de maior nível, embora a canalhice resolvesse pintar-lhe o corpo, vez ou outra. Via uma garota de belos olhos na rua e já se colocava a montar versos de palavras difíceis sobre as características da donzela que nunca conheceria seu talento na prosódia. E lá se ia a mocinha dos sonhos, para o nunca mais. Ele não conseguia suportar a ideia de um "felizes para sempre", mas sonhava com o dia em que encontraria "A" mulher. Os dois se conheceriam de uma forma improvável, trocariam telefones, ela ligaria tarde da noite pedindo para que ele fosse até o apartamento e, é isso, se entenderiam. Meus caros, foi mais ou menos isso que ele vislumbrou nessa noite que, até então, julgava tão vazia quanto seu copo.
Ela entrou ali com uma mala cheia, vestido um tanto quanto amassado, cabelos desgrenhados pela umidade e, ainda assim, parecia essas garotas que passam horas a se arrumar para parecer uma dessas modelos de estilo despretensioso. Ela não parecia, mas lembrava, apesar do pouco tamanho. Antes que percebesse, a pequena já estava do seu lado, pedindo o de sempre, que, ironicamente, era o mesmo que o recorrente pedido dele. Talvez fossem os deuses, três mil sinais para que ele agisse. Já um tanto quanto alto, iniciou uma conversa com a estranha. Não muito tempo depois, saíram dali.
...

Na manhã seguinte, deixou o braço cair do lado direito da cama e alcançar o vazio. Ela havia ido embora. Checou o celular: era demasiado tarde e deveria tomar o próximo ônibus se não quisesse assinar a própria demissão. Andou pelos cômodos e concluiu que a moça inspecionara cada canto. Ah, ela! De faces tão puras! De pensamentos igualmente puros, mas, dessa vez, como um cinzeiro. Enquanto descia as escadas e ajeitava as próprias roupas, pensava no que contaria aos colegas de trabalho sobre a misteriosa e estranhamente sedutora garota da noite passada. Ao abrir o portão de seu abrigo, deu por si encarando a mesma estranha de outrora, na padaria do outro lado da rua. Ela agora abraçava um homem que exibia o maior dos sorrisos. Quase teve vontade de correr e separar os dois. Foi aí que nosso rapaz se deu conta de que, enquanto se gabava de ter entrado na saia da moça, esta tinha alcançado a maior das façanhas: a de entrar de vez na cabeça dele.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Schizo

Ouça: A Broken Jar - La Dispute
te trago mais uma vez só pra te sentir esvair entre meus dedos pra ver teu rosto nessa fumaça pra que meu pulmão absorva aquilo que és pra que fique em mim só agora só agora só agora repito assim três vezes para que voltes como se fosse um mantra porque te espero sem saber como nem porquê sem exigir amarras explicações sem saber em qual sítio repousas e sem deixar-te saber o suficiente para que possas entrar porque doeu uma vez e vai doer mais sabes tão bem quanto eu dizemos adeus não porque é necessário mas para evitar rompantes de felicidade incontrolável de modo a nos tornarmos pueris inocentes e ainda mais frágeis nós e toda a crueza de um mundo que parece deveras pequeno e que insiste em jogar a todos em cantos opostos tornando almas ainda mais solitárias pois é isso que acontece aos românticos inadequados e perdidos meu bem e é a isso que estamos destinados portanto toma tuas dores tuas palavras teus erros desafia todos teus deuses teus medos teus sonhos. me encontra por aí.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

rätsel


não fosse pelo silêncio, 
pela evasão, 
pelas agulhas em forma de letras,
pela tua diversão expressa nas entrelinhas:
eu. permaneceria. aqui. (aí)