Ouça: Terrified - Anna Ternheim
Você não me conhece. Quer dizer, sabe, de algum
modo, da minha existência e é apenas isso. Nossos olhos não se encontraram, nem
mesmo aquela vez em que nos cruzamos em um ponto chave da cidade. Nossas peles
não se tocaram, nem por descuido causado por álcool, por puro propósito
ou mesmo pela minha falta de jeito. Não trocamos palavras. Nada além de linhas que algum dos dois decidiu seguir para se fazer
notar. O que você sabe é que eu existo, em-algum-lugar.
Não sei da tua voz. Do tom que ela adquire quando você diz que perdeu todas as esperanças em uma moça ou no diretor de um filme que já foi teu preferido. Não sei dos teus trejeitos, das tuas manias, de todos os teus gostos. Te conheço por codinomes e disfarces que usas pra chegar perto e sumir assim que eu decido me aproximar. Não conheço teu cheiro e, nos meus sonhos, insiste em aparecer, mas sem face. Um você-sem-identidade confrontando um eu-sem-respostas.
Não sei da tua voz. Do tom que ela adquire quando você diz que perdeu todas as esperanças em uma moça ou no diretor de um filme que já foi teu preferido. Não sei dos teus trejeitos, das tuas manias, de todos os teus gostos. Te conheço por codinomes e disfarces que usas pra chegar perto e sumir assim que eu decido me aproximar. Não conheço teu cheiro e, nos meus sonhos, insiste em aparecer, mas sem face. Um você-sem-identidade confrontando um eu-sem-respostas.
Se aquilo que ousam chamar destino, acaso
ou coincidência permitisse, eu me aproximaria e abraçaria tuas mágoas. Te
mostraria as minhas cicatrizes e apoiaria todas as tuas guerras sem nem
precisar saber as causas, porque eu sei como é estar desse lado. Te atenderia
em noites etílicas regadas a paranoias, crises e explicações para o mundo que
ninguém, além de nós, cúmplices secretos, seriam capazes de formular.
Serviríamos de morfina para aplacar a dor do outro. Sem obrigações, sem amarras
e sem direção, dispostos a afundar num copo qualquer de um bar próximo da sua
casa. A felicidade seria de todos os tópicos, o último. Ninguém quer ser feliz,
sabe, ainda mais, feliz para sempre. Concordaríamos que isso acabaria com o
sentido da vida. Com o dom miserável que faz parte do ser chamado humano.
Não somos, nunca fomos. Não conhecemos limites, não sabemos das rugas que cresceriam de algo que nunca chegou a ser. E, isso, meu caro, é o que nos torna apenas uma coisa: eternos.
Não somos, nunca fomos. Não conhecemos limites, não sabemos das rugas que cresceriam de algo que nunca chegou a ser. E, isso, meu caro, é o que nos torna apenas uma coisa: eternos.
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