quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Sobre o encontro de Urano e Júpiter(ou divagações interplanetárias)

Ouça: Jupiter Crash - The Cure

Tinha os olhos pousados no chão e mordia a tampa da caneta enquanto esperava uma inspiração que concluísse as ideias rabiscadas no caderno velho. A porta abriu-se violentamente, tirando a garota do torpor e do mundo mágico das palavras. "Se quiser descer...", disse. É, talvez fosse hora de dar um tempo, ver gente. Trocou o pijama por um simples vestido negro e um par de sapatilhas parecidas com aquelas usadas nas aulas de ballet que nunca fizera. Os cabelos avermelhados caíam em cascata, dando ao rosto um tom meio misterioso. Meio menina-mulher, apesar das roupas e da leve maquiagem.
Desceu. A sala de estar e os demais cômodos da casa dos pais encontravam-se cheios, tal como nunca vira. Estranhos. Pode reconhecer alguns (des)conhecidos da faculdade da irmã e colegas dos tempos de ensino médio da mesma misturados ao bando de gente esquisita e animada. Desconfortável, pegou uma das garrafas do bar de seu pai e foi até a varanda, fechando a porta atrás de si, evitando  possíveis incômodos.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Clarisse; 40.

Ouça: You Don't Know What Love Is - Billie Holiday

A mulher caminhava cuidadosamente pela calçadas curitibanas de petit-pavé, enquanto tentava manter-se de pé nos sapatos de salto. Seguia, sem rumo. Já era madrugada, mas os bares continuavam abertos. Andava sem saber ao certo aonde queria chegar. Parou num cruzamento. Tentou ler a placa, mas as memórias invadiram-na antes que conseguisse desvendar as letras. Alameda Dr. Muricy. Rua Cruz Machado. Rua Saldanha Marinho. As ruas de sua adolescência. Os becos por onde Clarisse matava tempo, aula e, aos poucos, a si mesma. As manhãs de segunda à sexta vieram-lhe a mente. Ela percorria aquelas ruas à procura de qualquer coisinha que tirasse sua vida do marasmo juvenil. Mendigos, meretrizes, boates, velhos nojentos e bêbados a provocar menininhas de 14 anos, como ela; as frequentes batidas policiais, as drogas. Tudo o que tinha sido sua adolescência, ali. Nada havia mudado. O Velho Chico continuava boêmio.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

14 dias


Repousa tua cabeça em meu seio perene agora,
descansa-te de tudo. 
Deixa que meu afeto invada-te a alma 
e ama-me até o fim do mundo.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Tarde

Ouça: Norah Jones - She's 22

"Um dia a menos.", penso enquanto abro a porta e jogo as chaves da casa na mesa mais próxima. As luzes apagadas denunciam ausência e as paredes parecem ter a intenção de me sufocar. Meu celular toca no fundo da bolsa e me tira de todo o torpor causado por um dia ruim. O sofá me acolhe enquanto identifico as mensagens e seus respectivos destinatários. Meus pais, avisando que chegaram em segurança ao destino almejado; minha melhor amiga, contando as novidades sobre o misterioso rapaz em que está interessada; e algum cara com quem saí no último final de semana, convidando-me para a festa incrível do amigo, no próximo sábado. Ignoro a mensagem do último e busco o número do  mesmo na lista de contatos. Por ironia, teu nome se mostra logo acima do dele e, sem pensar duas vezes, aperto o botão e aguardo. Me pergunto se você vai atender depois de ver que é meu número e tenho vontade de desligar. Tarde demais. Teu "Alô", um tanto quanto surpreso, me pega desprevenida e minha voz soa estranha. Após frases feitas"Tudo bem?" "Sim, e você?" o silêncio resolve dar as caras. Você pigarreia enquanto busco meios de deixar as coisas menos estranhas.