sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

a quebra da maldição.

 fui aprender a ser grande ontem: controlar as emoções frente às memórias me prega peças demais. a cada volta nas quadras percebo o quanto permaneço romântica, apesar de ter endurecido em um momento ou outro. 

repasso na cabeça as coisas que eles não entenderiam. o ciclo de 9 anos que se encerra agora me fez outra. mais polida. uma criança grande, mas segura. os cabelos curtos, pintados. uma felicidade boba. uma fé inabalável em deuses que não podem ser explicados. e eu queria explicar, principalmente aos amores antigos que orbitam. penso se eles gostariam do que eu sou hoje, mesmo que não faça sentido e que essa validação já não sirva de muito. o meu desejo hoje é grande e ocupa espaço, mesmo que de formas diferentes. os 30 batem à porta e eu percebo que foram 9 anos pra virar borboleta e desfazer tudo que eu sabia. ao mesmo tempo, ali aos 21, eu era grande. ousada, diria. unhas, dentes, uma coragem. tudo que se transforma em doçura. menos medo ou reatividade. penso demais, mas tento não perder as noites de sono. 9 anos de lagarta e eu não tenho pra quem contar. a Ariel que perdeu a voz em boa parte dos 9 anos quebrou a maldição e canta de novo. eu sei de muitas coisas agora, eu tenho menos títulos e menos horas de protocolo, mas um coração mais macio e leve. sou outra. que bom. 

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Inominável

 não há espaço para nostalgia, mas a memória insiste em me encontrar nas madrugadas em que a ansiedade visita. não houve declaração, além das acusatórias e odiosas. penso sempre que poderia ter sido melhor ou mais ácida quando te era merecido. mas não. nada. 

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

estátua de mármore

ouça: estátua de mármore - anavitória

Luto com a minha própria memória para que ela não me pregue peças e para que eu seja capaz de lembrar que a ausência de resposta é uma sentença completa. Éramos jovens. Você quebrado, eu esperançosa. A minha vontade de ser grande me levou pra longe e me fez em minúsculos pedaços. Nenhuma máscara, carne exposta. Acho que você teria gostado mais dela, embora eu não pudesse ter sido mais clara naquele momento. O desejo distanciado. Suas palavras amargas, cuspidas com raiva. Nenhum ponto final. Hiato. Anos e anos. Novos rostos, corpos, jeitos. Cidade grande com clima de interior que nos esbarra em esquinas e multidões. Silêncio. Pra sempre. Até que se manifeste como audiência cativa, que orbita em torno de vidas que se veem de longe. Tudo que da pra significar como algo ou nada porque não há respostas. Um coração ou outro à toa. Solicitações. Sem resposta. Sem elaboração. Sem nada. Líquido como o que foi e o que deixou de ser. Como o que vive em passado-sem-futuro, completamente imperfeito. Como a gente.