Ouça: James Bay - If You Ever Want To Be In Love
Já é tarde quando você me encontra e pergunta onde está meu par. Respondo qualquer coisa, digo que mesmo junto, sigo singular. Ímpar. Numa cidade tão pequena e claustrofóbica, ironia é não esbarrar em uma esquina e terminar a noite dividindo a mesma sarjeta.
Você pergunta o que fez de errado e eu respondo que errado foi termos nos alongado. O banco da praça, as pequenas angústias, o silêncio. Só precisava ter repousado a cabeça no teu ombro enquanto esperava o espetáculo começar. Igual aquela noite.
Você bebe a minha cerveja e fica quieto. Olha pro que te chama atenção atrás dos meus ombros.
A moça cruza o outro lado do bar sem te ver e te machuca. Mais magra que antes, sussurra pra si.
Falo algo sobre a tua preferência infalível sobre mulheres que parecem caveiras. Delicadas e maravilhosas. Você não responde. Pergunto o que te trouxe a mim. Eu, Vênus. Elas, pequenas ilustrações. Detalhes. Cabelos negros. Eu e a clareza de veias, mas nunca de palavras. Você diz que foram a falta delas, minhas palavras. Seu hall de paixões é repleto de desenhos e o destoante dicionário mudo que sou. Pergunto-me em qual definição estaria encaixada.
Dessa vez, eu calo.
Encaro seu rosto enquanto afunda num mar de lembranças. Não está mais lá.
Meus olhos cansados não suportam cenas repetidas de filmes que ainda não vi. Pego minhas coisas, dou o último gole.
Ter de cruzar mais uma vez essa rua é como precisar atravessar uma flecha no próprio peito.
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