terça-feira, 23 de janeiro de 2024

estranha

aos quase 28 percebo que perdi o vocabulário rebuscado e parece até que algumas palavras me fogem da cabeça ao tentar descrever situações cotidianas. minha língua deixou de ser ácida e movida por jogos.

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Ele, o coração de câncer me diz: “volte”. Que voltará aos antigos hábitos, que retomará as linhas de contato e fará novos investimentos em conforto. Sem ser direto, me expressa o quanto eu ainda posso ser pequena e que, ali, eu sempre poderei ser vulnerável. Na cozinha, ela me diz das maldições que correm no sangue das duas família. Que uma tem a melancolia e a outra a impaciência, tendo eu sido agraciada com ambas. Falamos sobre os que vieram antes, os que sofrem hoje com o mal do passado. Eu, suspensa nas noções ente casas e lares, construí locais de passagem onde pousa o corpo e a mente vaga há seis anos. Empilho livros em prateleiras que não são minhas, repouso canetas que já nem funcionam em cadernos que não veem minhas letras há muito tempo depois que a voz aprendeu a sair da garganta. E volto pra ela, a casa, a palavra, sempre que dói e que não há ouvidos aptos a ouvir. Das formas de voltar a casa, lembro que sempre haverá um novo parágrafo a ser escrito. You wouldn't take my word for it If you knew who was talking If you knew where I was walking To a house, not a home, all alone 'cause nobody's there Where I pace in my pen and My friends found friends who care No one sees when you lose When you're playing solitaire

terça-feira, 2 de maio de 2023

ouça: happiness - Taylor Swift


se tivesses lido O livro saberia que palavras ferem e a quebra de promessas enterra mesmo as sustentações mais sólidas. saberias do medo das casas vazias e dos lares em que mora a ausência. entenderia que os amantes mortos não são fantasmas. que os ressentimentos que plantastes no jardim deram frutos e me fazem te olhar com vazio. que eu já preparo a minha saída e que toda palavra que você diz não é nada a não ser uma promessa que não será cumprida. o futuro que você não encara não suporta a minha imagem. estarei em busca dos continentes, do lar que se recusou a construir e de amantes com óculos e ouvidos capazes de interpretar o que eu digo. se tivesses lido O livro, saberia que todas as palavras ferinas que proferi significavam saltos de fé enquanto abria mão de mim. em cada abraço frouxo, desato os nós que me ligam à sua vida, para que logo mais não sejas nada além aquilo que desconheço. preparo malas e passagens enquanto disfarças teu mal querer em gestos sem significado. logo menos, não estarei.

domingo, 15 de janeiro de 2023

a exaustão das desculpas consistentes e dos conflitos que se repetem me afastam do que é terceiro e me põem a calcular de novo as rotas de saída levantar os portões arrumar as malas mesmo que metafóricas e os 27 quase aí me lembram que cada camada que foi retirada ao longo dos anos me deixa mais e mais vulnerável e mais cansada e vocal sobre incômodos e cansada muito cansada de explicar o óbvio de advogar sobre os meus sentimentos e bancar toda vez principalmente quando não quero estar certa quando espero que toda nova decepção seja um mero engano meus olhos fecham a garganta cala falo pouco apareço ainda menos os olhos afundam e se eu te contar que chorei diferentes vezes essa semana no ônibus no chuveiro lavando a louça fazendo o café da manhã no banheiro do trabalho respiro e digo que foi mais uma das alergias e que o tempo não está dos melhores respiro e me planejo de novo para outros começos para planos que me dão medo para planos construídos em areia movediça e respiro de novo e me convenço de que eu só eu sou responsável por mim e é sozinho e então preciso respirar de novo porque as lágrimas voltam assim como eu volto à primeira casa e tudo muda de novo e não há espaço pra mim não há para onde ir e tudo precisa ser cancelado respiro não durmo direito choro 2x ao dia e tento tomar a quantidade recomendada de água pois ao menos sei que não terei mais problemas respiro e tento conversar com ouvidos que não ouvem é isso ser adulto é estar sozinho com outras pessoas que também estão e um vazio que o medo das contas preenche e o medo do futuro comenta tentarei ser outra de novo e de novo sabendo do cansaço afinal não há outra alternativa. 




há?